Ana Dora Bernoldi de Oliveira
Elzenita Pereira dos Santos
Geisa Santos de Oliveira Sá
Manoel dos Santos
Patrícia Viana
INTRODUÇÃO
A
aplicação da expressão “politicamente correto” (ou incorreto), hoje, pode ser
realizada em variados campos, não somente no campo da linguagem. Ela pode expressar
um comportamento, posicionamento, texto ou pensamento correto ou incorreto.
Para
alguns um movimento americano, localizado e que expressa a normatização de tudo
que possa existir. Para outros, apesar de algumas falhas, é o resultado da
organização das minorias Muitos dizem que o
movimento pode se tornar um instrumento de censura, podendo limitar a liberdade
de expressão, enquanto outros dizem que com o movimento, as línguas podem
empobrecer, pois se tal palavra fosse classificada como politicamente
incorreta, ela automaticamente seria banida do vocabulário. Considerando que
são muitas as questões propostas que defendem um comportamento linguístico
politicamente correto, tais como o combate ao racismo e ao machismo e a suposta
ideia de que o homem branco ocidental é superior, o movimento tenta não deixar
marcado o vocabulário e o comportamento de qualquer grupo que não cumpra certos
critérios. Vale ressaltar que existem formas linguísticas que propagam sentidos
que discriminam explicitamente e outros sentidos que discriminam de forma
subliminar.
Dessa
maneira, pode-se inferir que, considerando a perspectiva da análise do
discurso, as palavras podem serem utilizadas em um contexto que somente no
discurso os seus significados serão compreendidos, e a formação do discurso
determinará o termo em que essa palavra está sendo empregada. Por vezes,
palavras que possuem uma carga polissêmica é mal interpretada, outras são
realmente usadas no sentido pejorativo.
Os
sentidos das palavras para um analista do discurso são muito importantes e ao
mesmo tempo complexo, visto que a análise precisa ser minuciosa, olhando todos
os ângulos, inclusive o politicamente correto. As palavras não são meramente
letras que formam sons, elas trazem consigo uma história, elas fazem parte de
processos históricos e possuem o sentido que carregam. Com o passar do tempo a
história muda e juntamente com ela palavras também mudam, novas palavras são
formadas, enquanto outras entram em desuso.
Todo
contexto histórico, biológico, social, devem ser analisados quando o emprego
das palavras entra em questão para avaliar se não está sendo empregada ou
interpretada de forma preconceituosa. Isso porque, possivelmente o
“politicamente correto” também pode ser empregado de forma de preconceituosa.
Para essa análise, o semanticista precisa levar em conta o campo lexical que o
indicará o sentido real da palavra, e ao que se refere através do conjunto de
textos, faz-se o levantamento das palavras que são ligadas, sendo elas opostas,
sinônimas etc. Todos esses questionamentos devem estar embasados teoricamente, para
que não se cometa injustiças.
Segundo
Courtine (1981, p. 12), “se os processos discursivos constituem a fonte de
produção dos efeitos de sentido no discurso, a língua pensada como instância
relativamente autônoma é o lugar em que se realizam os efeitos de sentido”.
Dessa
maneira, no texto “A linguagem politicamente correta e a Análise do Discurso”
encontramos a pesquisa sobre algumas formas linguísticas cujo sentido demonstra
desvalorização de indivíduos ou grupos, sendo muito relevante para a Análise do
discurso. O movimento em defesa da linguagem politicamente correta evidencia a
teoria da AD, e confirma a afirmação de Bakhtin segundo a qual o signo não
reflete, mas refrata a realidade, tornando-se, por consequência, uma arena de
luta de classes (Bakhtin/Voloshinov (1929, p.46). Para um semanticista ou para
um analista de discurso é de muita relevância os dados colhidos para autenticar
o movimento, mesmo sabendo que o mesmo produz dados com grau de seriedade
variado, bem como os elementos discursivos mais críticos do movimento são dados
experienciais de muita importância para sustentar as teses centrais da AD.
Tendo em conta que os sentidos não são os mesmos para os falantes situados em lugares
social e geograficamente diferentes, as teses da AD ficam bastante confirmadas
com a colheitas desses dados. Segundo o referido texto, não há nada melhor para
verificar uma concepção de discurso como uma prática social e histórica do que
ver e viver disputas de sentidos, materializada na luta pelo emprego de certas
palavras e na luta para evitar o emprego de outras.
A discussão gerada depois do emprego da
palavra “mulato” por parte de um candidato à presidência da república, como
forma de responder a uma tentativa do adversário de caracterizá-lo como se
fosse da elite, foi escolhida para retratar o tipo de material que interessa de
forma relevante para a AD. Segundo o texto, que indica que ao mesmo tempo que a
disputa fornece os dados ao analista, o fato de que essa disputa se dá através
da imprensa ajuda a esclarecer sua relevância, já que a discussão
caracteriza-se como um caso em que as forças sociais que agem com e sobre a
linguagem deixam claro a suas posições, apelam para argumentos de variadas ordens,
inclusive argumentos científicos, na tentativa de produzir efeitos sobre a
linguagem, ordenadamente.
No
citado episódio foram registrados alguns exemplos de intervenção como uma
reportagem com um militante negro que afirma que o candidato só poderia ser
filho de “mula”, afinal, segundo o militante, “mulatinho é cruzamento com mula
e não com negro”. Já outra intervenção, dessa vez feita através de cartas de
leitor a uma determinada revista, um leitor afirma que Fernando Henrique
deveria saber que a palavra “mulato” tem origem pejorativa e que certos
movimentos negros lutam contra sua utilização. No entanto outro leitor afirma
que a palavra “mulato” não deriva de “mula”, mas de um vocábulo árabe
(aprox.[mohalát]) que significa “mestiço”. Portanto vemos aqui que se uma
hipótese etimológica for verdadeira, a palavra “mulato” veicularia realmente o
racismo, porém se a outra também etimológica for verdadeira, então a palavra
“mulato” estaria isenta de transmitir racismo. O movimento em favor de
comportamentos politicamente corretos, além de combater o uso de termos
marcados negativamente, caracteriza-se por propor a substituição de tais termos
por outros denominados de “neutros” ou “objetivos”. Segundo o autor do trabalho
em questão, após a análise de alguns textos ficou claro que há grupos
organizados em torno dos sentidos das palavras e que lutam para que alguns
sentidos sejam vitoriosos e outros sejam eliminados.
Assim,
à guisa de conclusão que chegamos é que, considerando que a Semântica pode ser
vista numa dimensão mais ampla que envolve o discurso, a enunciação, o texto, o
léxico, o morfema etc, sendo o léxico, por sua vez, o que se ocupa dos
significados que emanam das palavras nas relações estabelecidas umas com as
outras, entende-se que a Semântica Lexical se ocupa dos fenômenos linguísticos
e esses fenômenos não podem ser estudados isoladamente. Isto é, fora de uma
situação comunicativa ou de uma interação verbal. Vemos esse esclarecimento em
Faraco e Tezza (2010, p. 47), por exemplo, que “as palavras só ganham
significado no momento mesmo em que acontecem. Só assim saímos do ‘sinal de
código’, do ‘valor dicionário’, para a vida real do significado”.
Podemos
dizer então que o termo léxico é reservado à língua, já o termo vocabulário é
reservado ao discurso, que por sua vez é ativo, pois está vinculado ao uso do
falante e caracteriza-se por pertencer a uma área específica de conhecimento. A
Linguística Estruturalista tem se apoiado na ideia de associações para
estabelecer os nexos de significados. Alguns linguistas passaram a estudar as
diversas associações, porém não há uma uniformidade terminológica no tratamento
desse tema. A análise apresentada dos nexos semânticos estabelecidos por
intermédio da associação das palavras contribui para determinar a produção do
significado do texto do ponto de vista da sua coerência.
Dessa maneira, chama-se a atenção
para a homonímia/polissemia, os implícitos, as posições vazias e as habilidades
que representam questões de uma língua ou de um discurso, mais especificamente
do discurso enquanto concepção para a qual a língua essencial ou crucial em
oposição ao subliminar. Sobre a homonímia/polissemia na base da pragmáticas atribuições de sentido
dos enunciados são desconsiderados linguísticos sendo atribuído ao circunstancial.
No entanto, a AD considera a polissemia sabendo que uma palavra ou expressão
representa outros sentidos quando substituído por outras, com efeitos
metafóricos. Isso constitui uma formação
discursiva a partir do enunciado que atribuem sentido ao que é dito e não
necessariamente a uma interpretação a partir do contexto.
Da
mesma forma, os implícitos consideram que o contexto pode proporcionar a
inferência de sentido dos enunciados, mas a análise do discurso explica que a
recuperação do sentido dos explícitos ocorre pelo discurso transversos, o que
se recupera pelo que já foi dito em outro lugar (POSSENTI, 2004). Isso pode
demandar explicações psicológicas por ser discursos menos estabilizados.
Já
as posições vazias permitem uma análise do discurso estabilizada pela definição
clara da posição em relação à língua.
Dessa forma, análise do discurso permite explicar as estruturas dos
processos discursivos, seus efeitos de sentido vivo como resultado de um
posicionamento do falante a partir de um lugar histórico que resulta nas
determinações linguísticas. Ou seja, uso
de uma linguagem politicamente correta ou depreciativa, discriminatória em
machista tem relação com a busca pela manutenção do poder denunciador e das
memórias discursivas específicas isso implica nas ambiguidades quando análise
do discurso se divide em duas partes, sendo uma da teoria linguística e outra psicanalítica, as quais promovem
dubiedade de sentidos em relação à formação discursiva e os enunciados
proferidos pelos falantes.
REFERÊNCIA
MODULO SEMÂNTICA
Versão 4 parte 2, pdf. Disponível em :<https://moodle-nead.uesc.br/pluginfile.php/13157/mod_label/intro/MODULO%20SEMANTICA%20%20Versao-4%20parte%202.pdf> Acesso em 10/04/2020.
POSSENTI, Sírio. A linguagem politicamente correta e a análise
do discurso. (1995). Disponível em:<http://www.periodicos.letras.ufmg.br/index.php/relin/article/view/1016/1127>.
Acesso em: 03 mar. 2020.
______. Notas sobre o
linguístico e o sentido (2004). Disponível
em:<http://www.leffa.pro.br/tela4/Textos/Textos/Anais/CELSUL_VI/Mesas%20Redondas/NOTAS%20SOBRE%20O%20LING%C3%9C%C3%8DSTICO%20E%20O%20SENTIDO.pdf>. Acesso em: 27 out. 2017.
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